A idéia de elaborar este manual
surgiu a partir dos resultados dos trabalhos desenvolvidos pelo Comitê Técnico
de Obras Raras do Sistema de Bibliotecas e Informação – SIBI, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, onde foi constatado, através de um levantamento
realizado em 1993, que as coleções bibliográficas da UFRJ não tinham tratamento
preventivo para uma maior vida útil.
No mesmo ano de 1993, foi elaborado
o Manual de Conservação de Acervos Bibliográficos, editado pelo SIBI/UFRJ,
dentro da série Manual de Procedimentos.
INTRODUÇÃO
Nossa intenção não é ditar normas
de como realizar a conservação preventiva dos acervos bibliográficos, mas
orientar e conscientizar àqueles que lidam com este tipo de material,
divulgando e esclarecendo procedimentos necessários para a conservação
preventiva de acervos bibliográficos.
Para se manter o acesso às amplas
coleções de material bibliográfico acumulados com do decorrer do tempo, tem-se
uma tarefa árdua a desenvolver – o duro trabalho de mobilização para o
planejamento da preservação.
A rápida deterioração dos livros
impressos, após 1840, faz com que sua sobrevivência seja ameaçada devido as
condições ruins de armazenamento, rotinas de processamento e desgaste causado
pelo uso. Além disso, observa-se que quase todo o papel disponível é muito
ácido e com os novos meios de informação, como as fitas magnéticas, discos
óticos e fotografias coloridas, todos com vida surpreendentemente curtas,
agrava-se ainda mais a capacidade das bibliotecas de garantir a disponibilidade
desses materiais.
Para isso, tem-se os seguintes
recursos:
Conservação
Preventiva – atua
na deterioração do acervo com o objetivo de prevenir danos. São práticas de
proteção. Inclui o monitoramento das condições ambientais, higienização,
procedimentos de manutenção e planejamento de desastres.
Conservação
Corretiva – serve
par remediar a deterioração física ou química. É o processo de utilização da
mão de obra especializada por profissionais altamente qualificados, em
consequência os custos são altos e a aplicação se limita a partes selecionadas
do acervo.
Para assegurar uma longa vida útil
para o acervo como um todo, o método mais eficiente em relação aos custos e
aumentar sua longevidade é prevenir, da melhor forma possível, a sua
deterioração. Assim, o planejamento da
preservação, não deve ser visto como um elemento novo, mas como um
componente das operações e responsabilidades da Instituição.
PREVENÇÃO
AGENTES EXTERNOS E AMBIENTAIS
É uma preocupação que o
bibliotecário deve ter constantemente a fim de evitar a deterioração do acervo.
Isto requer o conhecimento básico das condições de armazenamento, exposição e
segurança da coleção.
Os fatores que fragilizam ou
danificam a maioria dos acervos são:
Temperatura; Umidade Relativa;
Iluminação; Poluição Atmosférica; Agentes Biodeterioradores e Ação do Homem.
Temperatura e Umidade
A temperatura e umidade são fatores
que contribuem fortemente para a deterioração de materiais bibliográficos, além
de favorecerem a proliferação de agentes biológicos. Deve-se manter a
temperatura entre 19° a 23° centígrados e a umidade relativa do ar entre 50% e
60% ( o ideal é 55%) através de aparelhos específicos como:
·
Aparelho de
ar-condicionado – ajuda o controle de temperatura do ambiente – na falta deste
é importante o uso de ventilador;
·
Higrômetro – mede a
umidade relativa do ar;
·
Termo-Higrômetro – mede a
temperatura e a umidade;
·
Desumificador – retira a
umidade do ambiente;
Para documentos guardados em
arquivos, usa-se sílica gel em foram de pedra. No caso de ambientes com
umidade relativa abaixo de 40%, é recomendado a utilização de umificador.
umidade relativa abaixo de 40%, é recomendado a utilização de umificador.
Iluminação
A luz solar (UV), não deve incidir
diretamente sobre o acervo, bem como a luz branca (lâmpadas fluorescentes), que
devem ser mantidas numa boa distância da coleção pois são altamente
prejudiciais ao papel, tornando-os escuros (amarelados), devido a degradação da
lignina presente na sua composição. Recomenda-se o uso de filtros protetores
nas janelas e nas lâmpadas. Persianas nas janelas amenizam a ação da luz solar.
Poluição Atmosférica
Dentre os poluentes mais agressivos
estão a poeira e os gases ácidos. O uso de filtros em sistemas de ventilação e
ar-condicionados podem diminuir ou eliminar a maior parte dos contaminantes do
ambiente, principalmente a poeira.
Com relação aos gases ácidos, o uso
de filtros de carvão ativado é o mais indicado para absorver este poluente. Entretanto,
esses filtros devem ser substituídos ou reciclados periodicamente. É importante
que o acervo seja periodicamente higienizado. A remoção da poeira nos livros
deve ser feita com higienizador (aspirador de pó com reservatório de água) ou
com trincha de pelo macio, pelo menos uma vez por ano, afastado do acervo. Não
esquecer o uso de máscaras, luvas, guarda-pó e óculos de proteção.
Agentes de Biodeterioração
Existem numerosas espécies de
agentes de biodeterioração comumente encontrados que vão afetar diretamente o
acervo. Conhecê-las é a melhor medida para evitar ou eliminar o problema.
·
Insetos;
·
Roedores
de superfície – Baratas (Blattarias), Traças ou peixe de prata (Tisanuros) e Piolho
de livro (Corrodentia);
·
Roedores
internos – Cupins (Termitas) e Brocas (Anobiideos).
Medidas profiláticas
Torna-se necessário a limpeza
constante dos ambientes e documentos, impedindo a entrada e infestação destes
insetos, bem como o controle de temperatura ambiental e observação constante,
principalmente se os acervos estiverem acondicionados em móveis de madeira não
tratados. As publicações antigas e raras encadernadas em couro são preferidas
para o ataque de insetos.
Métodos de controle
·
Baratas
– pulverização e nebulização;
·
Traça de
livro, Piolho de livro e Brocas – fumigação;
·
Cupins –
a erradicação se faz com o extermínio dos ninhos seguindo a orientação do
especialista;
·
Fungos - derivado do latim "fungus" e significa
cogumelo. São microorganismos que se instalam em matérias orgânicas.
Normalmente estão dispersos no ar ou depositados sobre superfícies. A condição
favorável para o seu desenvolvimento é o alto teor de umidade e temperaturas
descontroladas. São também chamados "mofos" ou "bolores" e
atacam todos os tipos de acervos.
Conforme Luccas e Seripierri, a utilização de produtos químicos no
combate aos fungos, conforme comprova a literatura tem oferecido resultados
positivos, como é o caso da substância Timol.
Ação do Homem
Os critérios para manusear um
documento são determinantes para uma maior vida útil e de sua permanência no
acervo. Recomenda-se portanto, a adoção de normas e procedimentos básicos, como
por exemplo o treinamento de pessoal que contribui consideravelmente para a
conservação preventiva do acervo.
Outros procedimentos devem ser
seguidos, como:
·
Não manusear livros ou
documentos com as mãos sujas;
·
Não manter plantas
aquáticas, guarda-chuvas e capas molhadas junto ao acervo;
·
Evitar infiltrações e
goteiras junto à coleção;
·
Em dias muito úmidos,
evitar abrir as janelas;
·
Não fumar e realizar
refeições em prédios que guardam acervos;
·
Não usar fitas adesivas,
colas plásticas (use metilcelulose), grampos e clipes metálicos nos documentos;
·
Nunca usar carimbos sobre
ilustrações e/ou textos. Jamais usar caneta tinteira ou esferográfica nas
anotações. Quando necessário, usar lápis de grafite macio;
·
Não dobrar o papel
(orelhas), pois ocasiona o rompimento das fibras;
·
Usar marcadores próprios
evitando efetuar marcas e dobras;
·
Não retirar o livro da
estante puxando-o pela borda superior da lombada;
·
Os livros devem
permanecer em posição vertical. Nunca acondicioná-los com a lombada para baixo
ou para cima;
·
Usar bibliocanto para
evitar o tombamento dos livros;
·
Nunca manter as estantes
campactadas;
·
Fazer o transporte dos
livros em carrinhos especialmente construídos para este fim. Não superlotá-los
no ato do transporte;
·
Nunca umedecer os dedos
com líquidos para virar as páginas do livro. O ideal é virar pela parte
superior da folha;
·
Não apoiar cotovelos
sobre os volumes de grande porte durante a leitura;
·
Não fazer anotações
particulares em papéis avulsos e colocá-los entre as páginas de um livro. Eles
deixarão marcas;
·
Evitar enrolar gravuras e
documentos. Este tipo de material deve ser guardado em pastas;
·
Evitar tirar cópias de livros
encadernados. Esta prática danifica não só a encadernação como também o papel;
·
Não utilizar espanador e
produtos químicos para a limpeza do acervo e área física da biblioteca, use
trincha em local afastado das estantes. Para evitar a distribuição de poeira
sobre os volumes, o piso deverá ser limpo com pano úmido.
Desastres em Bibliotecas
Os incêndios e as inundações estão
entre as primeiras causas dos desastres em bibliotecas. Estes
danos podem ser evitados ou minimizados à medida que as bibliotecas tenham um
planejamento adequado com programas de proteção contra incêndios e inundações.
Indicamos algumas regras básicas de
procedimento para estas ocasiões.
No caso de inundações:
·
Manter os volumes
fechados até que toda a sugidade seja retirada;
·
Secar a obra através da
circulação do ar;
·
Não expor os livros ao
sol;
·
Envolver os livros e/ou
documentos mais encharcados com papéis mata borrão;
·
Não tentar abrir os
volumes enquanto estiverem molhados.
No caso de incêndios:
·
Não permitir que fume em
prédios que guardam acervos;
·
Verificar sempre o
sistema de eletricidade do prédio;
·
Instalar equipamentos de
detecção de fumaça e realizar a sua manutenção constante;
·
Ter a mão o número do
telefone do Corpo de Bombeiro local;
·
Adotar normas que
priorizem a retirada do acervo;
·
Sinalizar as dependências
da biblioteca;
·
Vistoriar constantemente
os equipamentos de segurança e proteção, assim como o espaço físico.
Referências Bibliográficas:
·
BREWER, Mireya Nmanfrini
de; Sosa, Claudio A . Insectos en
bibliotecas y archivos. [online]; [citado em 15 de setembro de 2000].
Disponível na World Wide Web: < URL: http: // www.ciencia-hoy.retina.ar./ - Luccas, Lucy; Seripierri, Dione. Conservar
para não restaurar: uma proposta para preservação de documentos em bibliotecas. Brasília: Thesaurus, 1995;
·
MYLES, Timothy G. Urban entomology program. [online]. [citado em 14 de setembro de 2000]. - Disponível na World Wide
Web: < URL: http: // www.utoronto.ca/forest/termite/termite.htm;
·
Silva Filho, José
Tavares; Almeida, Marilene S. F. de; Gonçalves, Paulo Roberto. Manual de conservação de acervos
bibliográficos. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Sistema
de Bibliotecas e Informação-SiBI, 1994;
·
Silva Filho, José Tavares
da. De Ebla – na Mesopotâmia – à
virtualidade: uma trajetória para a preservação da imagem do mundo. In:
VI CECI – Ciclo de Estudos em Ciência da Informação, SiBI/UFRJ, 1998;
·
Spinelli, Jayme. Introdução à conservação de acervos
bibliográficos. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep.
Nacional do Livro, 1995.
José Tavares da Silva
Filho - Bibliotecário – Biblioteca Pedro Calmon
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